No domingo, almoçamos uma comida maravilhosa com pequi no posto "Recreio" em Uruana-GO. Dormimos em Aliança do Tocantins-TO e acabamos de chegar no dia seguinte. Na segunda-feira (07/03) às 08 da manhã já estávamos na porta da casa do cliente. Depois de meia hora tentando destravar a porta do baú devido ainda a problemas com o rastreador, descarregamos na própria casa do médico que comprou os equipamentos sem maiores problemas. Primeira entrega feita, não perdemos tempo e já pegamos a BR-153 de volta, até Alvorada-TO, onde saímos pela deserta TO-373, entramos em Goiás em São Miguel do Araguaia-GO e fomos dormir em Nova Crixás-GO. Nesse dia ainda deu tempo de tomar uma cervejinha e comer um espetinho num bar próximo ao hotelzinho onde estávamos, na própria BR que corta a cidade.
Ponte sobre o Rio Tocantins, em Porto Nacional-TO |
Na terça-feira (08/03) bem cedo pegamos uma estrada de terra no sentido do Mato Grosso. Para evitar descermos algumas centenas de quilômetros até Barra do Garças, decidimos cortar por Cocalinho-MT e enfrentamos quase 200km de estrada de terra! Pura aventura no caminhão, duas balsas sobre os rios das Mortes e Araguaia, onde vimos até boto! Pelas estradas cruzamos ainda por quatis, emas e seriemas, araras, carcarás, tucanos, frangos d'água, mutuns etc...
Depois de tanta terra e "costelas de vaca" das estradas de chão, começamos a ouvir um barulho muito irritante próximo ao pé do passageiro. Abrimos uma tampa no assoalho, onde ficam a chave de roda, macaco e outras ferramentas, e descobrimos uma espécie de pratinho preso à lataria. O Tonho tentou apertar mais até que o barulho passasse, mas era impossível sem uma chave de boca. Por achar que se tratava de uma ferramenta qualquer, o Tonho tirou esse "pratinho"... mas só alguns dias depois iríamos descobrir sua função verdadeira...
Alcançamos o asfalto na BR-158 e seguimos ao norte até a cidade de Querência-MT. A cidade é uma amostra do que encontramos no estado: Querência é uma enorme colônia gaúcha de produção de soja, no limite sudoeste do parque do Xingu. Em todo o Mato Grosso, quem manda nas estradas são os caminhões graneleiros, escoando a produção de grãos que dominam as paisagens. Entretanto, também existem várias terras indígenas, que conseguem ser resistência ao avanço da "fronteira agrícola" dos latifúndios produtores de commodities para exportação e ser testemunho do maravilhoso cerrado matogrossense.
Caminhão graneleiro na nossa frente. À direita, latifúndios e monocultura. À esquerda, terras indígenas e mata nativa. |
Neste dia, dormimos numa cidade vizinha de Querência, chamada de Ribeirão Cascalheiras - MT e relaxamos tomando uma cerveja num bar ao lado de onde estávamos hospedados, também na rodovia que corta a cidade. No bar chamado "Jatobá", a Fran experimentou e adorou a "chica doida", um creme de milho temperado assado numa cumbuca.
Na quarta-feira (09/03) seguimos de volta a BR-158 até Nova Xavantina-MT, onde pegamos a BR-070, sentido Cuiabá. Continuamos a ver bandos de emas e outros tantos animais, especialmente pássaros, como os tuiuiús. Essa rodovia, no trecho do Mato Grosso é muito bonita, porque além das tantas terras indígenas protegendo o cerrado, também dá para ver os paredões típicos da chapada dos Guimarães.
Como devíamos estar apenas segunda-feira em Porto Velho e tínhamos ainda três dias completos de viagem pela frente, decidimos parar um dia na Chapada dos Guimarães. Chegamos na cidade homônima com um por-do-sol maravilhoso e encontramos uma pousadinha em conta, com estacionamento para o nosso caminhão. Na pracinha central, num restaurante chamado "Trapiche" comemos maravilhosos dadinhos de tapioca com queijo.
Na quinta-feira (10/03) passamos o dia todo no parque. Fechamos com um guia chamado Sérgio Pavão, do "Pé na trilha eco tour". Recomendamos! Além de super gente boa, o Sérgio conhece muito bem a chapada, sua fauna e flora. Primeiro fomos ao famoso "Véu de noiva". Depois seguimos para a "Cidade de pedra", a borda do planalto central. São enormes paredões e uma vista infinita de tirar o fôlego! Passamos grande parte do dia num circuito de sete cachoeiras dentro do parque e terminamos numa gruta chamada "casa de pedra".
Voltamos do Parque às 17 horas e seguimos para Cuiabá, a 65km pela MT-305. Na saída da cidade, depois de comer numa pamonharia muito cara chamada "portão do inferno",paramos para um cara que pedia carona. Ele era meio hippie e veio com uma conversa bastante estranha... dizendo que havia se perdido de uma amiga espanhola, que estavam indo para o Peru, que tinha ficado com as coisas dela... sorte que logo estávamos chegando em Cuiabá.
Poucos minutos depois que deixamos o carona estranho na porta da rodoviária, o Tonho passou em cima de um "olho de gato" na rua e de repente o caminhão começou a jogar para a direita. Ele conseguiu encostar na frente de uma loja grande que já estava fechada, pois já era umas 19h. Quando descemos do caminhão vimos que a roda dianteira estava saindo, quase no chão!!!
Então percebemos que aquele "pratinho" que tiramos alguns dias antes era uma "arruela" que prendia o amortecedor no assoalho - ou seja, servia para fixar toda a parte direita do eixo dianteiro na lata. Se o amortecedor resolvesse se soltar quando estivéssemos em alta velocidade poderia resultar numa tragédia! Porém, só em Cuiabá, rodando bem lento numa rotatória, que o parafuso escapou. Mais sorte ainda foi ter acontecido bem de frente a uma oficina mecânica, que estava aberta àquela hora, trabalhava com suspensão e ainda tinha um torno para fazer a rosca de novo do parafuso.
Lá pelas 20h30 conseguimos resolver o problema, recuperar do susto e procurar a casa da Rapha (Faxion), amiga do Tonho que mora em Cuiabá e estuda na UFMT. Saímos para tomar uma merecida cerveja da vitória no bar Arcanjo e matar a enorme saudade! Faxion, agradecemos muito a recepção e a noite que passamos em Cuiabá! Esperamos voltar mais vezes!
Na sexta-feira cedo (11/03), levamos a Faxion na UFMT e seguimos nossa viagem, pela BR-070. Deixamos para abastecer depois de Cuiabá e passamos um grande aperto: no Mato Grosso tem pouquíssimos postos de combustível nas estradas. É preciso ter cuidado em todo o estado, porque às vezes a distância entre um posto e outro é mais de 100km! Este é um dos motivos que não é aconselhável rodar à noite por essas estradas. Notamos também que a roda direita tinha ficado meio torta, para dentro. Paramos numa oficina em Cáceres-MT e nos ligamos que o mecânico tinha prendido mal o amortecedor na noite anterior, o que fazia a roda "entrar" um pouco. Enfim resolvido o problema, aproveitamos para sacar dinheiro em Cáceres e almoçamos numa cidade próxima. Daí para frente, caímos na real que estávamos bem longe de casa quando cruzamos por placas indicando "Bolívia". Nesse dia, dormimos em um hotelzinho muito barato (35 reais duas pessoas) na beira da BR-070 em Comodoro-MT. Era um casal de velhinhos que tocava a hospedaria, que tinha um aspecto muito psicodélico por causa que todas as paredes eram feitas com retalhos de azulejos.
No sábado (12/03) atravessamos a fronteira entre os estados e chegamos em Vilhena-RO. Na BR-364, sentido à capital, demos carona para uma senhora evangélica que ficou pregando para a Fran, dizendo que as enchentes em São Paulo eram castigo de Deus, enquanto o Tonho dirigia, fingindo que não ouvia. Com o cair da noite, decidimos dormir em Ariquemes - RO.
No domingo (13/03) por fim alcançamos nosso destino final: Porto Velho-RO. Encontramos uma pousada barata e aconchegante numa região central. Comemos um peixe do Rio Madeira e demos uma volta no centro para conhecer a cidade. Depois fomos ao shopping e terminamos a noite tomando cerveja e sorvete na avenida Pinheiro Machado.
Palácio Getúlio Vargas, sede do governo do estado de Rondônia, em Porto Velho |
Na segunda-feira (14/03) fizemos coletas de equipamentos em dois endereços em Porto Velho, para levar de volta para São Paulo. Esperamos o técnico da empresa chegar e acompanhamos a montagem. Demoramos toda a manhã para montar e recolher essas máquinas (e ainda passamos um aperto quando a plataforma do caminhão pareceu que não ia ter força para subir o equipamento!). Na hora do almoço, já estávamos prontos para começar os quatro dias de volta que nos esperavam até São Paulo. Nessa segunda-feira, dormimos em Presidente Médici-RO, num hotel muito barato de frente à rodoviária, mas caindo aos pedaços.
Na terça-feira (15/03) cruzamos o rio Paraguai num por-do-sol lindo e dormimos em Cáceres - MT. Na quarta-feira (16/03) cortamos Cuiabá - MT por fora e seguimos pela BR-163 para Rondonópolis- MT. Essa estrada está em péssimas condições: cheia de buracos e também de obras, que nos obrigam a parar a todo momento, formando filas imensas de caminhões. Quando chegamos em Goiás, em Santa Rita do Araguaia-GO, o sol ainda estava no céu. Seguimos a BR-164 por Mineiros-GO e Jataí-GO.
Ponte sobre o Rio Paraguai, em Cáceres-MT |
Já era madrugada na BR-452, entre Rio Verde-GO e Itumbiara-GO, quando o Tonho percebeu um carro muito estranho atrás de nós, que ficava colado mas não ultrapassava. Quando reduzíamos a velocidade, ele ultrapassava mas não seguia. Ficava variando a luz alta e baixa... e por vezes chegou a apagar completamente os farois! São comuns histórias de colegas motoristas que foram roubados... o Tonho ficou bem ligado, durante cerca de 30 km que o carro suspeito nos acompanhou. Finalmente chegamos em Bom Jesus de Goiás, mas naquela hora da madrugada, tudo estava fechado. Então o Tonho esperou chegar no último trevo na saída da cidade e, de uma vez, entrou no retorno. O carro suspeito seguiu reto e nós voltamos para um posto que encontramos a conveniência aberta. Demos um tempo antes de seguir nosso caminho e logo logo alcançamos Itumbiara-GO, entramos na BR-153, rodovia pedagiada, e podemos seguir mais tranquiles.
Amanhecemos nas estradas de São Paulo e fomos acompanhando por toda a manhã pelo rádio a polêmica posse do Lula como ministro. Após mais de 8.500 km rodados, duas semanas depois, finalmente chegamos em Jacareí na quinta-feira (17/03) a tarde.
Destino: Palmas-TO, Querência-MT e Porto Velho-RO
Carga: Equipamentos hospitalares
Distância percorrida, ida e volta: 8.500 km
Demais seguir por essas estradas com vocês!
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