A primeira parada foi em São Paulo, no Tietê, para buscar o Arthur, que nos acompanhou em toda a viagem. O Arthur é mestrando em antropologia e está fazendo uma pesquisa sobre estradas e caminhoneires. Como a Fran fez seu trabalho de conclusão de curso sobre mulheres caminhoneiras, não podíamos negar essa carona acadêmica. A companhia e amizade do Arthur para para nós foi um grande prazer, para muito além dos seus interesses de pesquisa.
Já no nosso primeiro encontro, ele sentiu o drama de ser motorista. O nosso caminhão não passava no túnel da rodoviária na rua lateral que entramos para buscá-lo, que era mão única, impossibilitando o retorno para marginal. Chovia muito e o trânsito era intenso na capital paulista. A Fran teve que manobrar na contramão enquanto o Tonho fechava o trânsito, com a ajuda de um flanelinha que aproveitou do nosso aperto para tirar uns trocados.
Conseguimos cruzar São Paulo, vencer os engarrafamentos e chegamos na rodovia Castelo Branco no começo da noite. Seguimos madrugada a dentro conversando e fomos parar para descansar no estado do Paraná, próximos ao nosso primeiro destino.
Encontramos um "motel / hotel" de beira de estrada. Em geral, nos motéis não entram caminhão, por causa da altura; mas este tinha um estacionamento fechado na parte de fora. De um lado estavam os quartos de "hotel" e do outro os quartos de "motel", estes com estacionamento privativo para carro de passeio. O Tonho desceu para negociar o preço, explicando que poderíamos ficar num quartinho do hotel só com duas camas de solteiro, porque dormiríamos umas poucas horas antes de seguir viagem. A dona do estabelecimento ficou meio desconfiada, resistente, e por fim perguntou se "só íamos dormir mesmo, ou se era para fazer suruba". Em meio a risadas, o Tonho convenceu ela a ficar na parte do "hotel" e cobrar mais barato. Algumas horas depois, quando fomos embora com o dia amanhecendo, a senhora ainda perguntou - séria e com sotaque paranaense - se não tínhamos mesmo quebrado as camas!
Estrada no Paraná |
Voltamos para Castro, uma cidadezinha simpática de mais de 300 anos, que se orgulha por sua colonização europeia (tudo isso está no Guia da Cidade, junto a outras informações bem divertidas). Era hora do almoço e decidimos dar uma volta na cidade. Fomos à colônia de "Castrolanda", onde imigrantes holandeses montaram uma cooperativa agrícola. Depois fomos ao centro histórico, onde almoçamos, antes de voltar para o consultório onde fizemos a entrega. Levamos um equipamento, numa caixa bem grande, que custou um pouco para entrar na sala do consultório, mas sem grandes problemas.
Moinho em Castrolanda |
Castro - PR |
Trabalho feito, retornamos a Ponta Grossa. Encontramos uma pousadinha barata (Hotel Ipiranga), com estacionamento para o caminhão, onde ficam os operários que trabalham nas obras na região. Os donos do estabelecimento eram muito hospedeiros, nos receberam muito bem e até nos deram carona para um bar na rua "Mística", onde se concentra a vida noturna do centro da cidade. Bebemos e comemos bem!
Continuando com as coincidências incríveis da estrada... De repente, o Tonho ouve alguém o chamar: era o Paulinho, amigo de Goiânia, que estava descendo para o sul e tinha parado para visitar uma amiga na cidade! Grata surpresa! Conversamos um pouco sobre a repressão que amigos e estudantes estão sofrendo do governo do estado de Goiás. Depois de um abraço libertário, cada um seguiu seu caminho. Bom te ver, Paulinho!
No domingo, acordamos com a sensação de ganhar uma hora no nosso dia: finalmente, acabava o horário de verão! Tomamos café com pães feitos pelo próprio pessoal da pousada e fomos conhecer melhor a região, antes de seguir viagem para Santa Catarina.
Essa região do Paraná, chamada Campos Gerais, é mais um dos lugares lindos do Brasil, com grutas, cachoeiras e outras formações geológicas. Planícies onde viveram povos indígenas e depois povoada por tropeiros e imigrantes de muitos lugares do mundo. Visitamos o Parque Vila Velha e fomos a Lagoa Dourada e as furnas (incríveis buracos enormes no solo) e formações de arenitos!
Furnas no Parque Vila Velha |
Lagoa Dourada, Parque Vila Velha |
Arenitos no Parque Vila Velha |
Seguimos pela BR-376, que liga Ponta Grossa a Curitiba e saímos por estradas locais na região dos Campos Gerais. Passamos em Palmeira-PR, município onde foi fundada a Colônia Cecília no final do século XIX, a primeira tentativa de implantação de uma comuna anarquista no Brasil - ficamos tentados a visitar o Memorial em homenagem a colônia que foi recentemente fundado, mas o tempo não nos permitiu.
Próximo à cidade de Lapa - PR, numa estradinha deserta, em pleno domingo, fomos parades pela polícia rodoviária, que implicou com um detalhe burocrático que documentasse a presença da plataforma no nosso caminhão. Tentamos argumentar, mas o policial nos multou por essa exigência que nunca tínhamos tido problema ou ouvido falar.
De volta à Régis Bittencourt, entramos em Santa Catarina por Mafra. Em seguida, pegamos a oeste estradas desertas iluminadas apenas pela lua cheia. Cansades, paramos para dormir em Fraiburgo.
Estrada em Santa Catarina |
Na segunda-feira (22/02) chegamos no cliente em Joaçaba-SC no primeiro horário. Mais uma vez, tivemos um pouco de dificuldade para descer o equipamento, já que o cliente não esperava uma caixa daquele tamanho, o que nos exigiu destreza e força. Feita a entrega, continuamos pela BR-282 rumo oeste catarinense.
Em Chapecó - SC, apanhamos um tanto para encontrar o endereço, porque à numeração normal da rua, os chapecoenses adicionam letras (A, B, C, D, E...) de maneira que os números se repetem e não dá para saber de antemão de que lado da rua vai estar o endereço. Procuramos um restaurante para almoçar, mas como era um pouco tarde (umas 14h) encontramos apenas um que estava quase fechando. O dono foi muito gente boa, deixou a gente comer à vontade, com suco e refrigerante, e nos cobrou só 25 reais para três pessoas. Enfim encontramos o nosso último cliente, mas numa das ruas mais movimentadas da cidade. Foi muito difícil parar, tivemos que fechar a rua algumas vezes e dar várias voltas no quarteirão.
Com a missão cumprida, aproveitamos o restante do nosso dia em Chapecó para encontrar a nossa amiga Ana Casagrande e seu companheiro Rafa. Fomos a uma sorveteria e tentamos por a conversa em dia. Foram poucas mas ótimas horas! Infelizmente não deu para ver seu filho Antonio, mas planejamos voltar.
Nesse dia, dormimos no hotel Bom Gosto II, em um posto na BR-282. Só conseguimos chegar em São Paulo de volta na terça-feira (23/02) a noite. Deixamos o Arthur no metrô Armênia e agradecemos sua companhia. As portas da nossa boleia estão sempre abertas pras conversas, causos e paieiros!
Chegamos em Jacareí quase 23 horas e ainda tivemos que carregar o caminhão para a viagem do dia seguinte, quando saímos cedinho para Pouso Alegre-MG.
Destino: Castro e Ponta Grossa (PR), Joaçaba e Chapecó (SC)
Carga: material odontológico
Distância percorrida, ida e volta: 2.500 km
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