Assim
que voltamos de Belém, esperávamos um longo e merecido descanso, o
que não aconteceu. Saímos de Goiânia vindo de Belém na
segunda-feira (17/11), na terça e quarta tivemos que trabalhar em
São José dos Campos e São Paulo, na quinta tivemos um dia livre
(aniversário da Fran) e na sexta (20/11) fomos até Caçapava
coletar parte de uma carga que deveria ser entregue na semana
seguinte em Goiânia.
Na segunda-feira de manhã saímos rumo a Goiânia de novo, porém dessa vez em um caminhão maior.
O caminhão maior exigiu que aprendêssemos coisas novas, por exemplo:
-
usar o tacógrafo;
-
como usar as marchas reduzidas;
- todo motorista precisa de um pen drive de músicas de posto de gasolina;
- procurar postos seguros para dormir e montar a cama do caminhão;
- o funcionamento de uma agenciadora de carga. Bom, vamos explicar ponto por ponto.
- todo motorista precisa de um pen drive de músicas de posto de gasolina;
- procurar postos seguros para dormir e montar a cama do caminhão;
- o funcionamento de uma agenciadora de carga. Bom, vamos explicar ponto por ponto.
Então, sobre o tacógrafo. Acho que poucas pessoas que não trabalham com caminhão sabem o que é isso. Na verdade, o tacógrafo é a caixa-preta do caminhão. É o instrumento responsável por marcar as oscilações da velocidade, as ultrapassagens do limite permitido, o tempo de parada dos motoristas, etc. É exigido por lei e fiscalizado pelos policiais não apenas em casos de acidentes, mas em paradas de rotinas também. Assim, ele tem que estar sempre em dia e de preferência com velocidades que não excedam os limites.
Antes de partir para uma viagem o motorista tem que preencher o tacógrafo (por fora, ele parece um rádio, marcando a data e a hora) e por dentro é inserido um "disco" de papel . Esse disco tem o formato de um CD e sete camadas de papel (uma para cada dia da semana). Assim que começa a viagem, o/a motorista escreve no primeiro disco a hora, a data da viagem, o nome dx motorista e a placa do veículo. Depois disso, o aparelho marca a movimentação do veículo com pequenos riscos no papel carbonado.
Sobre
o segundo ponto: alguns caminhões (principalmente os maiores) tem
seis marchas normais e seis marchas reduzidas. No câmbio normal o
caminhão anda em “marcha leve”, mas tem um pequeno botão que
você pode empurrar na hora em que muda o caminhão para marcha
reduzida.
Antes de sairmos, pedimos ajuda para alguns motoristas e percebemos que os jeitos de usar a marcha reduzida são distintos. Uns consideram a marcha reduzida como uma marcha intermediária: se você tiver de sexta e quiser reduzir, pode jogar uma sexta reduzida e começar a diminuir a velocidade, já jogando logo em seguida uma quinta “leve”.
Na prática esse jeito foi meio complicado e o caminhão perdia força com muita rapidez, freando com brutalidade. No fim, usamos as marchas pesadas reduzidas mais em subidas e da quinta marcha para baixo. Ainda temos que aprimorar o uso de todas essas marchas, mas já valeu o aprendizado.
Antes mesmo da viagem “começar” e sairmos de Jacareí já tínhamos aprendido – pelo menos na teoria – como usar o tacógrafo e as marchas reduzidas. A viagem começou na sexta-feira (20/11) em Caçapava, no fim de semana ficamos trabalhando com a correção de uma dissertação em Jacareí e na segunda (23/11) pegamos a estrada. Primeiro passamos em uma gráfica em São Paulo, depois em outra em Monte Mor (cidade perto de Campinas). As coletas demoraram um pouco e só conseguimos seguir viagem para Goiânia depois do almoço.
No almoço, percebemos que tínhamos esquecido o pen drive com música. Assim, aproveitamos o ecletismo da oferta musical dos postos de gasolina e compramos um CD do Milton Nascimento, achado entre Cd's do Sepultura, Tim Maia, músicas sertanejas e gospel, DVD's do Zé do Caixão e filmes evangélicos. Chegando no caminhão vimos que o rádio não tocava CD. Não teve jeito, no posto seguinte compramos os famosos pen drives de posto (“uma recordação pra sempre”), aí foi só desfrutar – e pouco tempo depois odiar – as milhares músicas de sertanejo, arrocha, axé e estilos desconhecidos.
Antes de sairmos, pedimos ajuda para alguns motoristas e percebemos que os jeitos de usar a marcha reduzida são distintos. Uns consideram a marcha reduzida como uma marcha intermediária: se você tiver de sexta e quiser reduzir, pode jogar uma sexta reduzida e começar a diminuir a velocidade, já jogando logo em seguida uma quinta “leve”.
Na prática esse jeito foi meio complicado e o caminhão perdia força com muita rapidez, freando com brutalidade. No fim, usamos as marchas pesadas reduzidas mais em subidas e da quinta marcha para baixo. Ainda temos que aprimorar o uso de todas essas marchas, mas já valeu o aprendizado.
Antes mesmo da viagem “começar” e sairmos de Jacareí já tínhamos aprendido – pelo menos na teoria – como usar o tacógrafo e as marchas reduzidas. A viagem começou na sexta-feira (20/11) em Caçapava, no fim de semana ficamos trabalhando com a correção de uma dissertação em Jacareí e na segunda (23/11) pegamos a estrada. Primeiro passamos em uma gráfica em São Paulo, depois em outra em Monte Mor (cidade perto de Campinas). As coletas demoraram um pouco e só conseguimos seguir viagem para Goiânia depois do almoço.
No almoço, percebemos que tínhamos esquecido o pen drive com música. Assim, aproveitamos o ecletismo da oferta musical dos postos de gasolina e compramos um CD do Milton Nascimento, achado entre Cd's do Sepultura, Tim Maia, músicas sertanejas e gospel, DVD's do Zé do Caixão e filmes evangélicos. Chegando no caminhão vimos que o rádio não tocava CD. Não teve jeito, no posto seguinte compramos os famosos pen drives de posto (“uma recordação pra sempre”), aí foi só desfrutar – e pouco tempo depois odiar – as milhares músicas de sertanejo, arrocha, axé e estilos desconhecidos.
Seguindo
a estrada, pegamos muita chuva, e para não viajar de
noite e debaixo d'água, paramos no posto Décio em Uberlândia. Este posto
é bem grande, tem lavanderia, barbearia e até sala de leitura para
os motoristas. Foi a primeira vez que dormimos no caminhão. Depois
de meia hora tentando montar a cama, ligamos para outro motorista da empresa, para descobrirmos que atrás do banco do
passageiro tinha uma alavanca que abria a cama. Apesar do medo de não
conseguir dormir por causa dos barulhos dos outros caminhões, da
falta de posição por dividir em dois a cama pequena e de morrer sem
ar por passar a noite fechada no caminhão, tudo deu muito certo e
conseguimos dormir tranquilxs.
Cama do caminhão aberta |
No
dia seguinte (24/11), saímos umas sete da manhã e continuamos a
viagem até Goiânia. Tomamos café no posto Décio mesmo e dividimos um PF no caminho. Só chegamos no local da entrega – em
Senador Canedo, conurbado de Goiânia – às quatro da tarde.
Demoramos um pouco para encontrar o local de entrega, uma fábrica de
energético, e aguardamos cerca de duas horas até que nos
chamassem para descarregar.
Depois, fomos para Goiânia procurar um local para deixar o caminhão. Uma chuva gigante se armava, assim que entramos na
cidade, vários trovões e uma tempestade, as ruas todas cheias de
carro, começando a alagar, uma confusão. Também foi difícil achar estacionamento. Depois de dar algumas
voltas acabamos deixando o caminhão no posto Goianão. Esperamos
um pouco até que o pai do Tonho, Alexandre, fosse nos buscar no meio
daquela bagunça que estava a cidade. Enquanto isso, aproveitamos
para ficar trabalhando na correção da dissertação de uma amiga
que precisava ser finalizada com urgência. Logo o pai do Tonho
chegou e aproveitamos para matar a saudade do melhor prato goiano- a
pamonha.
Chuva sobre Goiânia |
Fran Charlinha estudando no caminhão |
Quando
conseguimos parar e chegar na casa do Tonho já eram quase dez da
noite. Chovia tanto e estávamos tão cansados que tivemos que deixar de lado todos
os planos de beber uma cerveja com os amigos.
No
outro dia (25/11) não teve jeito, bem cedo começamos tudo de novo.
O pai do Tonho nos levou até o posto para pegar o caminhão. Por
sorte, antes disso, passamos muito rapidamente para pegar a Iara,
irmã do Tonho, e na casa da vó Myrthes, onde tivemos o prazer de
conversar um pouco com ela e com a Maiene.
Chegamos
no posto Goianão e procuramos uma carga. A ordem era “não voltar
batendo carroceria”, ou seja, não voltar vazio. No posto passamos
em algumas transportadoras e tentamos algum frete, logo descobrimos
que as cargas para o nosso tipo de caminhão (toco) eram mais
difíceis. Ele carregava até 8 toneladas (e 41 metros cúbicos) e
grande parte das viagens era para levar mais de 13 toneladas. Na
primeira transportadora, um gaúcho nos atendeu e disse que se
quiséssemos ganhar dinheiro teríamos que comprar outro caminhão,
ele ainda aproveitou para falar que se a gente quisesse só conhecer
o Brasil, como casal, tudo bem viajar em um caminhão pequeno, mas
que não era pra gente levar qualquer coisa porque os goianos não
são bobos e depois colocariam Tetraidrocanabinol no meio da carga, seríamos
presos, separados em presídios diferentes e o Tonho com olhos azuis
“sabe bem o que aconteceria com ele na cadeia”. Procurar carga
era não só um perigo, mas um verdadeiro roteiro de filme ficção,
com direito a final trágico.
Desconsiderando
a “tragédia anunciada”, seguimos para o posto Aparecidão, em
Aparecida de Goiânia, local conhecido por ter várias agências de
carga. Lá começamos a procurar uma carga, passamos em
algumas transportadoras, mas logo depois, descobrimos que no outro
lado do posto, haviam várias agências. Elas ficavam umas ao lado
das outras, aproximadamente vinte pequenos escritórios de poucos
metros quadrados. Do lado de fora, tinham uma lousa onde davam
detalhes sobre a carga disponível, escrevendo o local da
entrega e a quantidade de quilos. Ficamos lendo todas as lousas,
entrando em todos os escritórios e mais uma vez percebemos que as
cargas para o nosso tipo de caminhão eram escassas. No último
escritório – um container ao lado dos outros – o
atendente nos disse que tinha uma carga para um mercado de
Atacado, sendo o valor do frete de 700 reais e outros que eram de
sacos de grãos (como milho) e que o preço era de 1 pra 100, ou
seja, 100 reais para cada tonelada – no caso do nosso caminhão
seriam 800 reais. Descobrimos a quantidade de metros cúbicos do nosso baú, calculamos e vimos que o valor do frete era tão baixo que
não valeria a pena a mão de obra. De todo jeito, ligamos para a
transportadora que mandou seguir viagem vazios, alertando
que uma descarga no mercado de atacado podia levar até dois dias e
que essa longa espera não era contabilizada no valor no frete.
Quase
na hora do almoço, desistimos de procurar carga e seguimos de volta.
No caminho, saiu uma coleta em Paulínia, para ser feita no dia
seguinte. No caminho de volta, como a Fran precisava terminar a
correção da dissertação, o Tonho dirigiu grande parte do tempo.
Seguimos direto, parando apenas para almoçar em um buffet livre
entrando em Minas Gerais. Quando o sol estava se pondo, passamos por
Ribeirão e vimos um céu lindo. Andamos mais um pouco para procurar
um posto para dormir. Alguns postos exigem que os motoristas
abasteçam e assim disponibilizam uma vaga no estacionamento e uma
ficha para o banho. Foi assim que fizemos, paramos em um posto,
tomamos banho (frio) e esperamos a hora do primeiro jogo do Palmeiras
x Santos na Copa do Brasil (bom, hoje sabemos que apesar da primeira
derrota por 1x0, o Palmeiras venceu o campeonato, parabéns Verdão,
campeão da Copa do Brasil 2015 , vamo ganhar Porco!). Assistimos o
primeiro tempo, tomando uma cerveja e comendo uns petiscos, como
estávamos muito cansados, fomos deitar antes do fim do jogo e
ouvimos o segundo tempo na rádio do caminhão, antes de pegarmos no
sono.
Pôr do sol em Ribeirão |
Local para colocar a ficha do banho e acionar o chuveiro no posto |
No
dia seguinte (quinta-feira, 26/11), chegamos as 10 horas para fazer a
coleta em Paulínia. O local era uma fábrica de papel. Lá
carregamos umas duas mil caixas de papel higiênico (daqueles rolos
grandes), a carga não vinha no pallet, mas tinha que ser batida, ou
seja, montada no caminhão, caixa por caixa. Apesar de cada volume pesar
menos de 10 kg, no fim das quase duas mil caixas, já estávamos
super cansadxs e voltamos para Jacareí, chegando só umas quatro da
tarde.
Nessa
viagem também tivemos uma experiência única, como estávamos com
muitos trabalhos paralelos nunca tínhamos tempo para “descansar a
cabeça”. Como terminamos tudo, nesse caminho aproveitamos para ler
juntxs o livro “A hora dos ruminantes” de José Veiga. Este foi
um presente do nosso amigo goiano, Vinícius, uma leitura fácil
e deliciosa, como seus causos. Enquanto a Fran dirigia o Tonho lia em
voz alta, imitando as vozes dos personagens e fazendo pausas que
aumentavam a ansiedade pelos desfechos dos personagens. Viajamos por
Goiás e viajamos também pela cidade de Manarairema, onde se passa a
história do livro e onde permanecemos por algum tempo, sufocados com
a presença dos homens desconhecidos.
Destino: Goiânia
Carga: insumos para bebidas (ida) e papel higiênico (volta)
Distância percorrida, ida e volta: 2.000 km
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