domingo, 20 de dezembro de 2015

Maringá

Na quarta-feira (09/12), apesar de termos chegado do Sul no dia anterior, fomos novamente enviados para a região. A ideia era coletar o material em São José dos Campos e depois entregá-lo em São Paulo-SP, Maringá-PR e Lages-SC. Chegando no local de coleta, constatamos que nem tudo caberia no caminhão. Então levamos primeiro a carga de São Paulo, deixando o resto coletar depois e partir para o sul.

Este dia foi catastrófico, uma sensação de correr o dia inteiro e nada dar certo. Primeiro a coleta de manhã que não pôde ser completada, depois a entrega em São Paulo. O lugar de entrega na capital paulista era uma clínica na rua 24 de maio, rua da galeria do rock, centrão, local estreito, entupido de ambulantes, pedestres que andavam no meio da rua e sem lugar para estacionar. Para piorar, no caminho o rastreador do carro disparou e quase fez com que a gente obstruísse o trânsito de São Paulo, fazendo a Fran estacionar rapidamente em qualquer lugar. Na 24 de maio, foi um milagre achar um lugar para estacionar, passava gente, outros caminhões fechavam os retrovisores para tentar ultrapassar, a Fran estressada dentro do carro com medo de que algum fiscal de trânsito mandasse ela sair e sem saber como abrir a plataforma do caminhão naquele lugar; e o Tonho estressado por ter chegado na clínica e visto que o equipamento não cabia no elevador. Em meio ao caos, um vidro ainda caiu de uma janela no edifício há 5 metros de onde estávamos paradxs, quase acertando a cabeça de uma criança e transformando o momento em um trecho do filme do Almodovar.



Sem conseguir finalizar a entrega, voltamos para Jacareí. Outro motorista tinha coletado o material que seria entregue em Lages e Maringá, assim deixamos o caminhão na empresa para ser carregado e fomos almoçar no shopping – porque já eram três da tarde e não tinha nenhum restaurante aberto. Voltamos para empresa uma hora depois e o caminhão estava no mesmo lugar, sem ter sido carregado. Já eram quase 16h, teríamos que entregar em Maringá no dia seguinte e já estávamos irritados por começar a viagem tão tarde. Mas tudo bem, abastecemos, esperamos um pouco e saímos com destino a Maringá.

Andamos uns 50 km e nos ligaram para voltar. Haviam fechado uma carga para Santa Catarina e assim a entrega de Lages seria realizada por outro motorista, evitando que fizéssemos um desvio de quase 700 km. Nada de coleta, nada de entrega, nada de viagem para Maringá. O jeito foi voltar para casa, completamente exaustxs e sair no dia seguinte.

Na quinta-feira (10/12), as quatro horas da madrugada, saímos para Maringá. Logo cedo um pouco de problema com o rastreador que nos atrasou quase meia hora e mais uma busca por postos que tivessem calibrador de pneu. Apesar dos atrasos, pegamos a Marginal Tietê bem cedo, já lotada de carros, e atravessamos São Paulo. Seguimos pela Castelo Branco, até o fim, e entramos na continuação da Raposo Tavares até pouco antes de Ourinhos-SP, onde pegamos a BR-379 até Assis e depois a BR-333 até Londrina e por fim, Maringá. Essas estradas são muito boas, praticamente todas duplicadas e completamente planas, estendendo-se campos de soja até o infinito - bem diferente das serras gaúchas que transitamos nos dias anteriores.

Na divisa entre São Paulo e Paraná, paramos no posto fiscal e vimos vários coatis pela mata, sendo alimentados por um senhor. Almoçamos já no Paraná, onde dividimos um PF de ovo, feito a um preço especial pela atendente.






mar de soja



Chegamos em Maringá às 15h. No endereço da entrega, descobrimos que teríamos que dividir os equipamentos em três clínicas, entre elas uma veterinária, localizadas umas próximas às outras. Sem maiores problemas, descarregamos nos três locais e antes das 17h estávamos livres.

Assim, deixamos o caminhão estacionado e fomos a pé procurar um hotel. Fazia um dia quente e conseguimos caminhar bastante pelo centro de Maringá. Fomos até uma praça onde acontecia uma feira ao ar livre e conhecemos a Catedral Basílica Menor Nossa Senhora da Glória, um dos símbolos de Maringá. Andamos rumo ao terminal rodoviário e achamos vários hotéis. Acertamos com o mais barato que custava R$ 70 e tinha estacionamento para o caminhão. Quando fomos conversar com o senhor do estacionamento, ele estranhou que fossemos ficar no hotel e falou que lá era um "entra e sai danado de gente, não necessariamente para dormir". Decidimos então ver se até o caminhão achávamos outro hotel. Voltamos caminhando e paramos para comer um temaki maravilhoso em um lugar chamado Fast Sushi.






Pegamos o caminhão e continuamos a dar uma olhada nos hotéis do centro. No caminho vimos um acidente de carro de camarote: um senhor parou para que um pedestre atravessasse na faixa e outro carro bateu com força na traseira! O acidente foi nossa frente, enquanto esperávamos passar todos os carros na avenida. Sentimos um enorme mal estar e pensamos também como temos sorte por nada ter nos acontecido. Paramos em mais uns três hotéis até que achamos o Palace Hotel. O valor era de cem reais com garagem e café da manhã.

Deixamos as coisas no hotel e fomos tomar uma cerveja em uma padaria próxima que chamava Arco Iris Lanches, em frente à Praça Napoleão Moreira, toda enfeitada de Natal e com um trenzinho repleto de crianças. A noite estava muito bonita e ficou ainda melhor quando a Kika, amiga da Fran, chegou no bar. Estávamos sem celular e a comunicação foi difícil, mas umas dez e meia da noite, Kika e Ludo, seu companheiro, nos encontraram e fomos de carro para o Bar do Neco. Lá colocamos a conversa em dia e matamos a saudade, foi muito legal o encontro – pena que ninguém tinha celular e não tiramos fotos. A Kika, conhecida da Fran dos tempos em que moraram na França, continua a mesma, cheia de histórias e expressões engraçadas contadas com uma performance dramática única.







Voltamos para o hotel e no dia seguinte (11/12) saímos umas oito da manhã. Nesse dia, fizemos um caminho um pouco diferente e voltamos por dentro de Londrina, seguindo até Ourinhos pela BR-369. Esse caminho é bem menor, mas passa por dentro de várias cidades, cheias de semáforos e lombadas. Mais adiante, já na Castelo Branco, em vez de entrar em São Paulo, cortamos por dentro rumo à Jundiaí, por rodovias estaduais que dão na Dom Pedro I, na altura de Itatiba, onde paramos para comer esfihas. A viagem de volta foi tranquila e apesar das boas estradas, só conseguimos chegar em Jacareí lá pelas 20h, a tempo de participar do tão esperado churrasco da transportadora, que aconteceria no dia seguinte.






quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Caxias do Sul

Nos escalaram para uma entrega em Caxias do Sul – RS, no primeiro horário da segunda-feira, dia 07 de dezembro. Para chegarmos em tempo e, principalmente, aproveitarmos o fim de semana na estrada, saímos cedo na sexta-feira (04/12) para fazer entregas em Guarulhos e São Paulo e daí seguimos direto para o rumo de Curitiba.

Trânsito em sampa
O trânsito em São Paulo na sexta-feira (04/12) estava especialmente congestionado, devido às manifestações dos estudantes em vários pontos da cidade contra a proposta de re-organização do governador Alckmin que, entre outras coisas, prevê o fechamento de quase uma centena de escolas. Fomos todo o caminho acompanhando no rádio notícias que atualizavam as passeatas que se locomoviam por São Paulo. Próximo ao horário do almoço, quando realizávamos a última entrega num hospital perto da avenida Paulista, recebemos a notícia vitoriosa de que o governador suspendia provisioramente a re-organização escolar e propunha, enfim, dialogar a proposta com a sociedade civil. E ainda, mais tarde, já na rodovia Régis Bittencourt, a notícia de que caiu o secretário de educação do estado de São Paulo!

Por volta das 21 horas da sexta-feira, desembarcamos na casa do Max, em Piraquara-PR. Passamos o fim de semana com Max, que junto à sua companheira Ste, nos receberam lindamente numa aconchegante casa no meio do campo na região metropolitana de Curitiba. Colocamos as conversas em dia, conhecemos sua casa, seu cultivo de shitakes, brincamos com os gatos e trocamos ideias sobre nossas vidas.





No sábado, 05/12, acordamos bem cedinho para tentar pegar o trem que desce a serra para a cidade de Morretes. Porém, quando chegamos na estação em Curitiba, haviam acabado os ingressos! Encontramos a Heloá, que nos acompanharia na viagem frustrada, e decidimos aproveitar o dia em Curitiba mesmo. Fazia um dia lindo de sol, diferente dos últimos dias chuvosos. Fomos tomar café no mercado central, passear no jardim botânico. Encontramos sua irmã, Heloene, para almoçar comida árabe e tomar cerveja no largo da ordem. Depois fomos para casa delas descansar e ver um filme (“Whiplash”, que não deu tempo de terminar de assistir neste dia). Já a noite, pegamos um ônibus para Quatro Barras, onde Max e Ste nos buscaram, compramos uma pizza e voltamos para a casa deles, em Piraquara.






 Saímos de Curitiba no domingo cedinho, muito agradecidos pela recepção e por ter encontrados amigxs tão queridxs! Seguimos pela BR-116, rumo ao sul. Cruzamos todo o estado de Santa Catarina, passando por Mafra e Lages. Já no Rio Grande do Sul, 20 km depois de Vacaria, nos encontramos em uma bifurcação de duas estradas que dão em Caxias do Sul. Como estávamos com tempo, decidimos descer pela RS-122. Adoramos conhecer caminhos novos, faz parte da beleza da viagem se aventurar fora das estradas federais pedagiadas. A RS-122, que corta a serra gaúcha rumo a Caxias, foi uma dessas belas surpresas! Cruzamos serras, vales, rios... hortências na beira das estradas, encostas cobertas de parreirais, vinículas e colônias italianas.



https://www.youtube.com/watch?v=36XKMNt3cFE

https://www.youtube.com/watch?v=d-TCdVHu3ug


(Alguém sabe nos dizer o que significa a placa que só tem nas estradas gaúchas, escrito "Tachões no eixo a 150m"?)

Chegamos em Caxias do Sul por volta das 20h30 e fomos procurar hotel e estacionamento para a Sprinter. Enquanto a Fran verificava um hotel no centro da cidade, um morador de rua abordou o Tonho e depois de muita conversa atrapalhada, nos indicou o hotel mais barato da região... o Tonho agradeceu, tentou encerrar a conversa, mas o rapaz ainda ficou puxando assunto e pedindo dinheiro pela informação! Seguimos nossa busca pelas pousadas da cidade, que estavam bem mais caras do que podíamos pagar. Por fim, acabamos achando o indicado pelo rapaz, Ópera hotel, que, para nossa surpresa, realmente era a mais barata e ainda apresentava quartos bem razoáveis! Ficamos por lá e levamos o caminhão em um estacionamento na frente da rodoviária. Pegamos um taxi (no qual o chofer ficava dentro de uma cabine à prova de assalto!) para procurar o bar Mississipi, local que toca jazz e indicação do nosso amigo Rafa. Fomos na antiga estação ferroviária, que concentra parte dos bares da cidade, mas como já era tarde da noite de domingo, estavam todos fechados. Encontramos um único bar aberto (Pittsburg Bistrô Pub) onde tomamos um vinho gelado e comemos uma pizza de gorgonzola.


Na segunda-feira (07/12) cedo, fomos ao local da entrega. Era um hospital grande, com local para descarga. Apesar de ter que manobrar o caminhão e descer umas seis caixas com equipamentos bem grandes, com ajuda da “paleteira”, descarregamos o material sem problema.

O verdadeiro Food Truck
Paramos em um posto na saída da cidade para comer o resto da pizza da noite anterior, de café da manhã.


Para voltar, seguimos por uma estrada diferente, a BR-116, via principal que liga Caxias do Sul à Vacaria. Apesar de ser maior e com mais carros, também é uma estrada linda, cheia de curvas, por entre as serras. Paramos para comprar produtos coloniais, como vinhos, geleias (chimia, no sul), chocolates e queijos maturados no vinho.




Durante a viagem de volta, a transportadora entrou em contato para nós coletarmos material no outro dia na região metropolitana de Curitiba e trazer para uma fábrica de cervejas em Jacareí. Chegamos à noite na capital paranaense e conseguimos encontrar um estacionamento bem próximo à casa da Heloá e Heloene. Ainda deu tempo de aproveitar a noite com as amigas, comer macarrão e terminar de ver o filme que havíamos começado na semana anterior!

Na terça-feira (08/12), chegamos bem cedo no local da coleta em São José dos Pinhais – PR e carregamos 60 sacos de malte para cerveja. Seguimos para o centrinho de Piraquara para tomar café da manhã e esperar que a transportadora nos enviasse o conhecimento de transporte. Por volta das 11h30, estávamos liberados para seguir viagem de volta para casa, onde chegamos no final do dia.

Na viagem anterior, contamos do hábito delicioso de ler livro um para o outro, enquanto dirigimos. Na estrada para Caxias, um novo e forte companheiro subiu a bordo da nossa boleia: “O Germinal”, de Émile Zola.

Destino: Caxias do Sul - RS
Carga: Equipamento hospitalar
Distância percorrida, ida e volta: 2.500 km

















terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Ajudando à população de Mariana


Na sexta-feira (27/11), fomos cedo para a transportadora com o objetivo de entregar a carga que tínhamos coletado no dia anterior em Paulínia. Chegando lá, percebemos que a emissão da nota estava incorreta e assim tivemos que esperar um bom tempo até que a empresa de Paulínia enviasse o material correto. Enquanto esperávamos, fizemos alguns pequenos trabalhos em Jacareí. Quando terminamos tudo já se passavam das duas da tarde e não tínhamos almoçado, então recebemos uma ligação de que não iríamos mais para Paulínia naquele dia e que deveríamos realizar uma coleta em São José às 15:30 h.

Neste exato horário, tínhamos combinado com a nossa amiga Mariana Moraes de coletar as doações de água que uma escola de São José dos Campos tinha feito para ajudar a população de Mariana, atingidos pelo rompimento da barragem e pelo maior desastre ambiental do Brasil. Como havia semanas que planejávamos isso e estávamos com muita vontade de ajudar, tivemos que dar um jeito, assim ligamos para nossa amiga e fomos pegar a água um pouco antes da hora. Na escola foi uma correria, a maioria das doações eram de garrafas pequenas e estavam em sacolinhas plásticas, assim fomos e voltamos várias vezes até conseguir colocar tudo no caminhão.








Quando terminamos de coletar a doação já eram mais de 15:00 h. e seguimos direto para entregá-la na LBV (Legião da Boa Vontade), instituição beneficente que também atua em São dos Campos. Chegando neste lugar um dos voluntários nos ajudou a descarregar e saímos o mais rápido possível para fazer nossa coleta. No trajeto ainda tivemos que parar em um lava jato para lavar o caminhão que não podia chegar no lugar de coleta sujo. Em resumo, foi uma correria, não tivemos tempo de almoçar – só comer um pão puro que um senhor vendia no semáforo e tomar uma tubaína que um colega nos ofereceu quando o encontramos no lugar da coleta – mas ficamos feliz por ter ajudado - mesmo que muito pouco – a população de Mariana.


Além da ajuda material, é importante pressionarmos as autoridades para que os responsáveis pelo maior desastre ambiental do Brasil sejam punidos. Não foi acidente e não podemos aceitar que mais uma vez a população pague pelos grandes empreendimentos.