domingo, 26 de julho de 2020

TCC FRANCINE PEREIRA REBELO

Download livre no link acima!

As batonetes: uma etnografia de mulheres caminhoneiras no Brasil (2011)

O presente trabalho trata de uma pesquisa sobre questões de gênero tendo como objeto as mulheres motoristas de caminhão. A pesquisa intentou identificar as formas de inserção dessas profissionais nesse universo predominantemente masculino. Através de viagens realizadas com cinco profissionais do transporte e da reflexão sobre segurança, profissionalismo, cuidado e família busquei apresentar como se constroem as identidades dessas mulheres motoristas. A pesquisa é realizada sob uma perspectiva feminista e leva em consideração aspectos geracionais, étnicos, raciais e de classe. Observei que apesar das diferentes trajetórias aspectos como família, cuidado com o caminhão e carreira foram destacados e que grande parte dos obstáculos impostos a essas mulheres são relacionados ao sexo. É notório ainda que grande parte desses entraves são superados através do apelo ao profissionalismo. 
Palavras-chave: gênero, identidades, caminhoneiras.


segunda-feira, 28 de março de 2016

Tocantins, Mato Grosso, Rondônia

No sábado 05 de março, saímos depois do almoço para uma longa viagem, com o objetivo de entregar equipamentos hospitalares nos estados de Tocantins, Mato Grosso e Rondônia. Pretendíamos dormir o primeiro dia em Goiânia, mas atrasamos bastante porque o rastreador começou a dar problema, bloqueando sem motivo a todo tempo nosso caminhão na rodovia. Assim, às 4 horas da manhã ainda não havíamos chegado na capital goiana e decidimos parar para descansar algumas horas em uma pousadinha na beira da estrada, em Professor Jamil-GO, a poucos quilômetros da capital. No domingo (06/03) rodamos o dia todo, com destino à Palmas. Passando Anápolis, a BR-153 (Belém-Brasília) encontra-se em estado deplorável. Tem lugar que tem mais buraco que asfalto!



No domingo, almoçamos uma comida maravilhosa com pequi no posto "Recreio" em Uruana-GO. Dormimos em Aliança do Tocantins-TO e acabamos de chegar no dia seguinte. Na segunda-feira (07/03) às 08 da manhã já estávamos na porta da casa do cliente. Depois de meia hora tentando destravar a porta do baú devido ainda a problemas com o rastreador, descarregamos na própria casa do médico que comprou os equipamentos sem maiores problemas. Primeira entrega feita, não perdemos tempo e já pegamos a BR-153 de volta, até Alvorada-TO, onde saímos pela deserta TO-373, entramos em Goiás em São Miguel do Araguaia-GO e fomos dormir em Nova Crixás-GO. Nesse dia ainda deu tempo de tomar uma cervejinha e comer um espetinho num bar próximo ao hotelzinho onde estávamos, na própria BR que corta a cidade.


Ponte sobre o Rio Tocantins, em Porto Nacional-TO


Na terça-feira (08/03) bem cedo pegamos uma estrada de terra no sentido do Mato Grosso. Para evitar descermos algumas centenas de quilômetros até Barra do Garças, decidimos cortar por Cocalinho-MT e enfrentamos quase 200km de estrada de terra! Pura aventura no caminhão, duas balsas sobre os rios das Mortes e Araguaia, onde vimos até boto! Pelas estradas cruzamos ainda por quatis, emas e seriemas, araras, carcarás, tucanos, frangos d'água, mutuns etc...








Depois de tanta terra e "costelas de vaca" das estradas de chão, começamos a ouvir um barulho muito irritante próximo ao pé do passageiro. Abrimos uma tampa no assoalho, onde ficam a chave de roda, macaco e outras ferramentas, e descobrimos uma espécie de pratinho preso à lataria. O Tonho tentou apertar mais até que o barulho passasse, mas era impossível sem uma chave de boca. Por achar que se tratava de uma ferramenta qualquer, o Tonho tirou esse "pratinho"... mas só alguns dias depois iríamos descobrir sua função verdadeira...

Alcançamos o asfalto na BR-158 e seguimos ao norte até a cidade de Querência-MT. A cidade é uma amostra do que encontramos no estado: Querência é uma enorme colônia gaúcha de produção de soja, no limite sudoeste do parque do Xingu. Em todo o Mato Grosso, quem manda nas estradas são os caminhões graneleiros, escoando a produção de grãos que dominam as paisagens. Entretanto, também existem várias terras indígenas, que conseguem ser resistência ao avanço da "fronteira agrícola" dos latifúndios produtores de commodities para exportação e ser testemunho do maravilhoso cerrado matogrossense.


Caminhão graneleiro na nossa frente. À direita, latifúndios e monocultura. À esquerda, terras indígenas e mata nativa.
A entrega em Querência foi numa clínica em reforma. Tínhamos que levar para o segundo andar as caixas pesadas dos equipamentos (algumas pesam até 500 kg!) e, para tanto, juntamos os trabalhadores da obra da clínica e até os médicos arregaçaram as mangas. Só depois da entrega, quando paramos num posto para descansar, que o Tonho percebeu que, na correria, havia vestido a camiseta do uniforme da Fran - que mal cabia nele - e a Fran acabou colocando a camiseta do Tonho!

Neste dia, dormimos numa cidade vizinha de Querência, chamada de Ribeirão Cascalheiras - MT e relaxamos tomando uma cerveja num bar ao lado de onde estávamos hospedados, também na rodovia que corta a cidade. No bar chamado "Jatobá", a Fran experimentou e adorou a "chica doida", um creme de milho temperado assado numa cumbuca.

Na quarta-feira (09/03) seguimos de volta a BR-158 até Nova Xavantina-MT, onde pegamos a BR-070, sentido Cuiabá. Continuamos a ver bandos de emas e outros tantos animais, especialmente pássaros, como os tuiuiús. Essa rodovia, no trecho do Mato Grosso é muito bonita, porque além das tantas terras indígenas protegendo o cerrado, também dá para ver os paredões típicos da chapada dos Guimarães.







Como devíamos estar apenas segunda-feira em Porto Velho e tínhamos ainda três dias completos de viagem pela frente, decidimos parar um dia na Chapada dos Guimarães. Chegamos na cidade homônima com um por-do-sol maravilhoso e encontramos uma pousadinha em conta, com estacionamento para o nosso caminhão. Na pracinha central, num restaurante chamado "Trapiche" comemos maravilhosos dadinhos de tapioca com queijo.

Na quinta-feira (10/03) passamos o dia todo no parque. Fechamos com um guia chamado Sérgio Pavão, do "Pé na trilha eco tour". Recomendamos! Além de super gente boa, o Sérgio conhece muito bem a chapada, sua fauna e flora. Primeiro fomos ao famoso "Véu de noiva". Depois seguimos para a "Cidade de pedra", a borda do planalto central. São enormes paredões e uma vista infinita de tirar o fôlego! Passamos grande parte do dia num circuito de sete cachoeiras dentro do parque e terminamos numa gruta chamada "casa de pedra".












Voltamos do Parque às 17 horas e seguimos para Cuiabá, a 65km pela MT-305. Na saída da cidade, depois de comer numa pamonharia muito cara chamada "portão do inferno",paramos para um cara que pedia carona. Ele era meio hippie e veio com uma conversa bastante estranha... dizendo que havia se perdido de uma amiga espanhola, que estavam indo para o Peru, que tinha ficado com as coisas dela... sorte que logo estávamos chegando em Cuiabá.

Poucos minutos depois que deixamos o carona estranho na porta da rodoviária, o Tonho passou em cima de um "olho de gato" na rua e de repente o caminhão começou a jogar para a direita. Ele conseguiu encostar na frente de uma loja grande que já estava fechada, pois já era umas 19h. Quando descemos do caminhão vimos que a roda dianteira estava saindo, quase no chão!!!

Então percebemos que aquele "pratinho" que tiramos alguns dias antes era uma "arruela" que prendia o amortecedor no assoalho - ou seja, servia para fixar toda a parte direita do eixo dianteiro na lata. Se o amortecedor resolvesse se soltar quando estivéssemos em alta velocidade poderia resultar numa tragédia! Porém, só em Cuiabá, rodando bem lento numa rotatória, que o parafuso escapou. Mais sorte ainda foi ter acontecido bem de frente a uma oficina mecânica, que estava aberta àquela hora, trabalhava com suspensão e ainda tinha um torno para fazer a rosca de novo do parafuso.

Lá pelas 20h30 conseguimos resolver o problema, recuperar do susto e procurar a casa da Rapha (Faxion), amiga do Tonho que mora em Cuiabá e estuda na UFMT. Saímos para tomar uma merecida cerveja da vitória no bar Arcanjo e matar a enorme saudade! Faxion, agradecemos muito a recepção e a noite que passamos em Cuiabá! Esperamos voltar mais vezes!



Na sexta-feira cedo (11/03), levamos a Faxion na UFMT e seguimos nossa viagem, pela BR-070. Deixamos para abastecer depois de Cuiabá e passamos um grande aperto: no Mato Grosso tem pouquíssimos postos de combustível nas estradas. É preciso ter cuidado em todo o estado, porque às vezes a distância entre um posto e outro é mais de 100km! Este é um dos motivos que não é aconselhável rodar à noite por essas estradas. Notamos também que a roda direita tinha ficado meio torta, para dentro. Paramos numa oficina em Cáceres-MT e nos ligamos que o mecânico tinha prendido mal o amortecedor na noite anterior, o que fazia a roda "entrar" um pouco. Enfim resolvido o problema, aproveitamos para sacar dinheiro em Cáceres e almoçamos numa cidade próxima. Daí para frente, caímos na real que estávamos bem longe de casa quando cruzamos por placas indicando "Bolívia". Nesse dia, dormimos em um hotelzinho muito barato (35 reais duas pessoas) na beira da BR-070 em Comodoro-MT. Era um casal de velhinhos que tocava a hospedaria, que tinha um aspecto muito psicodélico por causa que todas as paredes eram feitas com retalhos de azulejos.


No sábado (12/03) atravessamos a fronteira entre os estados e chegamos em Vilhena-RO. Na BR-364, sentido à capital, demos carona para uma senhora evangélica que ficou pregando para a Fran, dizendo que as enchentes em São Paulo eram castigo de Deus, enquanto o Tonho dirigia, fingindo que não ouvia. Com o cair da noite, decidimos dormir em Ariquemes - RO. 

No domingo (13/03) por fim alcançamos nosso destino final: Porto Velho-RO. Encontramos uma pousada barata e aconchegante numa região central. Comemos um peixe do Rio Madeira e demos uma volta no centro para conhecer a cidade. Depois fomos ao shopping e terminamos a noite tomando cerveja e sorvete na avenida Pinheiro Machado.
Palácio Getúlio Vargas, sede do governo do estado de Rondônia, em Porto Velho

Na segunda-feira (14/03) fizemos coletas de equipamentos em dois endereços em Porto Velho, para levar de volta para São Paulo. Esperamos o técnico da empresa chegar e acompanhamos a montagem. Demoramos toda a manhã para montar e recolher essas máquinas (e ainda passamos um aperto quando a plataforma do caminhão pareceu que não ia ter força para subir o equipamento!). Na hora do almoço, já estávamos prontos para começar os quatro dias de volta que nos esperavam até São Paulo. Nessa segunda-feira, dormimos em Presidente Médici-RO, num hotel muito barato de frente à rodoviária, mas caindo aos pedaços.

Na terça-feira (15/03) cruzamos o rio Paraguai num por-do-sol lindo e dormimos em Cáceres - MT. Na quarta-feira (16/03) cortamos Cuiabá - MT por fora e seguimos pela BR-163 para Rondonópolis- MT. Essa estrada está em péssimas condições: cheia de buracos e também de obras, que nos obrigam a parar a todo momento, formando filas imensas de caminhões. Quando chegamos em Goiás, em Santa Rita do Araguaia-GO, o sol ainda estava no céu. Seguimos a BR-164 por Mineiros-GO e Jataí-GO. 

Ponte sobre o Rio Paraguai, em Cáceres-MT

Já era madrugada na BR-452, entre Rio Verde-GO e Itumbiara-GO, quando o Tonho percebeu um carro muito estranho atrás de nós, que ficava colado mas não ultrapassava. Quando reduzíamos a velocidade, ele ultrapassava mas não seguia. Ficava variando a luz alta e baixa... e por vezes chegou a apagar completamente os farois! São comuns histórias de colegas motoristas que foram roubados... o Tonho ficou bem ligado, durante cerca de 30 km que o carro suspeito nos acompanhou. Finalmente chegamos em Bom Jesus de Goiás, mas naquela hora da madrugada, tudo estava fechado. Então o Tonho esperou chegar no último trevo na saída da cidade e, de uma vez, entrou no retorno. O carro suspeito seguiu reto e nós voltamos para um posto que encontramos a conveniência aberta. Demos um tempo antes de seguir nosso caminho e logo logo alcançamos Itumbiara-GO, entramos na BR-153, rodovia pedagiada, e podemos seguir mais tranquiles.

Amanhecemos nas estradas de São Paulo e fomos acompanhando por toda a manhã pelo rádio a polêmica posse do Lula como ministro. Após mais de 8.500 km rodados, duas semanas depois, finalmente chegamos em Jacareí na quinta-feira (17/03) a tarde.




Destino: Palmas-TO, Querência-MT e Porto Velho-RO
Carga: Equipamentos hospitalares
Distância percorrida, ida e volta: 8.500 km

quinta-feira, 17 de março de 2016

Araraquara, Ribeirão Preto, Pedro Leopoldo...

No domingo (28/02) acordamos bem cedinho, para aproveitar a entrega da segunda-feira e visitar a Talita e sua família em Araraquara - SP.  Faziam cinco anos que a Fran não se encontrava com a Talita, sua grande amiga dos tempos em que viveram juntas em Londres. Foi uma grande emoção revê-la e ver quanta coisa esta amiga fez em cinco anos, entre elas dois filhos lindos e fofos: Cadu e Caio.

Chegamos lá na hora do almoço, a Talita fez uma lasanha deliciosa e César, seu companheiro, nos esperou com uma cerveja bem gelada. A tarde passou voando entre as conversas de Londres, as atualizações dos últimos anos, as papinhas e brincadeiras com as crianças, e a derrota do Palmeiras e Ferroviária, coincidentemente o time de Araraquara.

  A noite fomos dar uma volta no centro e ir na atração da cidade: a Carreta da alegria! O Tonho tava mais empolgado que o Cadu para ir no trenzinho. A carreta é uma evolução daqueles trenzinhos que passeiam pelas ruas com as crianças, animadas com personagens de desenho fantasiados. Em vez do velho trem, esse de Araraquara é uma carreta Constellation cheia de luzes, tocando funk na maior altura, parecendo uma balada ambulante. Mas a grande diferença é que na Carreta Furacão (como é conhecida na internet) os personagens fantasiados (Homem Aranha, Minion e o astro: Fofão) são super dançarinos funkeiros e fazem manobras radicais que só vendo ao vivo para acreditar! Se liguem nos vídeos, para ter noção da loucura. Coisas inacreditáveis que só os interiores do Brasil podem proporcionar!




Acordamos bem cedo e nos despedimos da família da Talita. Adoramos passar o domingo com vocês e ficamos muito agradecides pelo acolhimento e pelo amor! De coração, obrigada por tudo, Talita, Cesar, Cadu, Caio e Timão.

Às 07 horas da segunda-feira (29/02) já estávamos descarregando um equipamento em uma clínica em Ribeirão Preto. Sem perder tempo, pegamos a estrada rumo à capital de Minas Gerais. Entre as duas cidades, cruzamos a região do sul de Minas através da MG-050, muito familiar para a Fran, que apesar da vontade não pode parar em Passos porque o tempo era curto. Passamos por paisagens lindas pela Serra da Canastra (onde passamos o reveillon) e ao redor dos cânions da represa de Furnas. Paramos num restaurante maravilhoso num posto em Piumhi (chamado Brazinho), além da comida ser deliciosa, tinham várias sobremesas como doce de mamão, de leite e de abóbora, um mais gostoso que o outro. Aproveitamos também para comprar um queijo canastra.






Nosso segundo cliente do dia foi em Pedro Leopoldo - MG, na região metropolitana de Belo Horizonte (próximo a Confins), a mais de 550 km de Ribeirão Preto, cidade da nossa primeira entrega. Assim, só no fim da tarde, quase 18 horas, conseguimos chegar ao cliente em Pedro Leopoldo, uma clínica que tinha uma escada na porta. A solução para levar o equipamento para dentro foi manobrar o caminhão de forma que a plataforma encaixasse direitinho na escadaria, para puxar com a paleteira o material. Por sorte os clientes eram muito gente boa e nos ajudaram a fechar a rua.

Assim que concluímos a entrega, pegamos a estrada de volta para casa. O problema foi cruzar Belo Horizonte em horário de pico e sob fortes chuvas. Viajamos toda a madrugada pela rodovia Fernão Dias e paramos só uma hora e meia para descansar um pouco e seguir viagem. Chegamos em Jacareí às 07 horas da manhã do primeiro dia de março, a tempo de passar o caminhão para outro motorista seguir viagem para o sul.




Destino: Ribeirão Preto-SP e Pedro Leopoldo-MG
Carga: Equipamento hospitalar
Distância percorrida, ida e volta: 1.600 km

sábado, 5 de março de 2016

Pouso Alegre - MG


No dia 24/02, quarta-feira, logo cedo, às seis horas da manhã, pegamos a estrada para iniciar nossas entregas. A primeira foi em um hospital em São Paulo, apesar da dificuldade para estacionar e para achar os responsáveis pelo material, realizamos a entrega sem maiores dificuldades, sendo que às nove horas já seguíamos para rodovia Fernão Dias.

Ponte sobre a marginal tietê

Só depois do alívio de realizar a primeira entrega e deixar a conturbada cidade de São Paulo, tivemos ânimo para tomar café, em um dos primeiros postos da Fernão Dias. Esta estrada é cheia de curvas, com muitos trechos em obras e infelizmente com muitos acidentes também. Apesar disso, às 13 horas já estávamos em Pouso Alegre - MG.



Engarrafamento na Fernão Dias, devido a um acidente
A rua do consultório odontológico onde fizemos a entrega era super apertada, com paralelepípedos e carros estacionados dos dois lados, mal tendo espaço para o caminhão. A Fran desceu e falou com o cliente, que com muita simpatia nos ajudou a tentar parar em frente a clínica, solicitando aos vizinhos para que emprestassem suas garagens. Mesmo assim, o caminhão fechava quase a rua toda e o jeito foi parar em uma rua lateral e fazer várias viagens com as caixas. O esforço foi grande, eram caixas bem pesadas e ficamos bem cansados e morrendo de calor.

Rua onde entregamos em Pouso Alegre

Estacionamos o caminhão em frente da casa de uma senhora que estava escorada na janela que dava de frente para a rua. Assim que descemos, ela perguntou se a gente estava vindo para fechar os buracos da rua; respondemos que não e ela continuou conversando, perguntando de onde a gente vinha e por quê estávamos ali. O mais engraçado é que quando começamos a descarregar, a senhora foi para frente da sua casa, onde ficou conversando com outras senhoras e toda vez que passamos ela puxava assunto "nossa, leva essa caixa virada, fica mais fácil, tem que escutar as velhas que a gente sabe das coisas", " essa menina vai ficar muito magrinha carregando essas caixas pesadas", "ainda faltam muitas caixas?". Apesar do esforço, a gente tentava responder a senhora que estava ansiosa para saber de tudo que se passava na sua rua.

Levamos quase uma hora para descarregar tudo, mas valeu a pena porque o povo mineiro realmente é muito receptivo. Acostumados a tratar bem as pessoas, eles nos agradeceram várias vezes, ficaram com dó pelo nosso esforço físico, pela viagem, ofereceram água, puxaram assunto e fizeram de tudo para agradar.

Quando terminamos tudo já se passava das 14 horas, estávamos tão ansiosos para sair daquelas ruas apertadas que nem tentamos almoçar no centro de Pouso Alegre. Acabou ficando tarde e não achamos lugar para almoçar no caminho. Acabamos comendo um salgado e pamonha em um posto de gasolina. Nesse posto passamos por duas mulheres dirigindo carretas enormes! Como Pouso Alegre não é tão longe de Jacareí, chegamos em casa pouco mais de 18 horas.



Destino: Pouso Alegre - MG
Carga: Equipamento odontológico
Distância percorrida, ida e volta: 500 km

terça-feira, 1 de março de 2016

Ponta Grossa, Castro, Joaçaba, Chapecó...

Havíamos acabado de chegar de Curitiba naquela tarde de quinta-feira (18/02) e já nos escalaram para outros trabalhos no Paraná e Santa Catarina. Fizemos a coleta do material no mesmo dia e saímos na sexta-feira (19/02) outra vez com destino ao sul do país. Por ter que esperar a Sprinter voltar de outra entrega, só conseguimos sair depois das 18h de Jacareí.

A primeira parada foi em São Paulo, no Tietê, para buscar o Arthur, que nos acompanhou em toda a viagem. O Arthur é mestrando em antropologia e está fazendo uma pesquisa sobre estradas e caminhoneires. Como a Fran fez seu trabalho de conclusão de curso sobre mulheres caminhoneiras, não podíamos negar essa carona acadêmica. A companhia e amizade do Arthur para para nós foi um grande prazer, para muito além dos seus interesses de pesquisa.

Já no nosso primeiro encontro, ele sentiu o drama de ser motorista. O nosso caminhão não passava no túnel da rodoviária na rua lateral que entramos para buscá-lo, que era mão única, impossibilitando o retorno para marginal. Chovia muito e o trânsito era intenso na capital paulista. A Fran teve que manobrar na contramão enquanto o Tonho fechava o trânsito, com a ajuda de um flanelinha que aproveitou do nosso aperto para tirar uns trocados.

Conseguimos cruzar São Paulo, vencer os engarrafamentos e chegamos na rodovia Castelo Branco no começo da noite. Seguimos madrugada a dentro conversando e fomos parar para descansar no estado do Paraná, próximos ao nosso primeiro destino. 

Encontramos um "motel / hotel" de beira de estrada. Em geral, nos motéis não entram caminhão, por causa da altura; mas este tinha um estacionamento fechado na parte de fora. De um lado estavam os quartos de "hotel" e do outro os quartos de "motel", estes com estacionamento privativo para carro de passeio. O Tonho desceu para negociar o preço, explicando que poderíamos ficar num quartinho do hotel só com duas camas de solteiro, porque dormiríamos umas poucas horas antes de seguir viagem. A dona do estabelecimento ficou meio desconfiada, resistente, e por fim perguntou se "só íamos dormir mesmo, ou se era para fazer suruba".  Em meio a risadas, o Tonho convenceu ela a ficar na parte do "hotel" e cobrar mais barato. Algumas horas depois, quando fomos embora com o dia amanhecendo, a senhora ainda perguntou - séria e com sotaque paranaense - se não tínhamos mesmo quebrado as camas!

Estrada no Paraná
No sábado (20/02) a primeira parada foi num consultório odontológico em Castro-PR. Era muito cedo e o doutor responsável ainda não tinha chegado. Decidimos então seguir para Ponta Grossa, a 40km de distância, onde tínhamos outra entrega. Lá, demoramos um tanto para conseguir encontrar alguém que recebesse, já que era sábado.

Voltamos para Castro, uma cidadezinha simpática de mais de 300 anos, que se orgulha por sua colonização europeia (tudo isso está no Guia da Cidade, junto a outras informações bem divertidas). Era hora do almoço e decidimos dar uma volta na cidade. Fomos à colônia de "Castrolanda", onde imigrantes holandeses montaram uma cooperativa agrícola. Depois fomos ao centro histórico, onde almoçamos, antes de voltar para o consultório onde fizemos a entrega. Levamos um equipamento, numa caixa bem grande, que custou um pouco para entrar na sala do consultório, mas sem grandes problemas.

Moinho em Castrolanda

Castro - PR

Trabalho feito, retornamos a Ponta Grossa. Encontramos uma pousadinha barata (Hotel Ipiranga), com estacionamento para o caminhão, onde ficam os operários que trabalham nas obras na região. Os donos do estabelecimento eram muito hospedeiros, nos receberam muito bem e até nos deram carona para um bar na rua "Mística", onde se concentra a vida noturna do centro da cidade. Bebemos e comemos bem!

Continuando com as coincidências incríveis da estrada... De repente, o Tonho ouve alguém o chamar: era o Paulinho, amigo de Goiânia, que estava descendo para o sul e tinha parado para visitar uma amiga na cidade! Grata surpresa! Conversamos um pouco sobre a repressão que amigos e estudantes estão sofrendo do governo do estado de Goiás. Depois de um abraço libertário, cada um seguiu seu caminho. Bom te ver, Paulinho!

No domingo, acordamos com a sensação de ganhar uma hora no nosso dia: finalmente, acabava o horário de verão! Tomamos café com pães feitos pelo próprio pessoal da pousada e fomos conhecer melhor a região, antes de seguir viagem para Santa Catarina.

Essa região do Paraná, chamada Campos Gerais, é mais um dos lugares lindos do Brasil, com grutas, cachoeiras e outras formações geológicas. Planícies onde viveram povos indígenas e depois povoada por tropeiros e imigrantes de muitos lugares do mundo. Visitamos o Parque Vila Velha e fomos a Lagoa Dourada e as furnas (incríveis buracos enormes no solo) e formações de arenitos!


Furnas no Parque Vila Velha

Lagoa Dourada, Parque Vila Velha




Arenitos no Parque Vila Velha


Seguimos pela BR-376, que liga Ponta Grossa a Curitiba e saímos por estradas locais na região dos Campos Gerais. Passamos em Palmeira-PR, município onde foi fundada a Colônia Cecília no final do século XIX, a primeira tentativa de implantação de uma comuna anarquista no Brasil - ficamos tentados a visitar o Memorial em homenagem a colônia que foi recentemente fundado, mas o tempo não nos permitiu.

Próximo à cidade de Lapa - PR, numa estradinha deserta, em pleno domingo, fomos parades pela polícia rodoviária, que implicou com um detalhe burocrático que documentasse a presença da plataforma no nosso caminhão. Tentamos argumentar, mas o policial nos multou por essa exigência que nunca tínhamos tido problema ou ouvido falar.

De volta à Régis Bittencourt, entramos em Santa Catarina por Mafra. Em seguida, pegamos a oeste estradas desertas iluminadas apenas pela lua cheia. Cansades, paramos para dormir em Fraiburgo.

Estrada em Santa Catarina


Na segunda-feira (22/02) chegamos no cliente em Joaçaba-SC no primeiro horário. Mais uma vez, tivemos um pouco de dificuldade para descer o equipamento, já que o cliente não esperava uma caixa daquele tamanho, o que nos exigiu destreza e força. Feita a entrega, continuamos pela BR-282 rumo oeste catarinense.

Em Chapecó - SC, apanhamos um tanto para encontrar o endereço, porque à numeração normal da rua, os chapecoenses adicionam letras (A, B, C, D, E...) de maneira que os números se repetem e não dá para saber de antemão de que lado da rua vai estar o endereço. Procuramos um restaurante para almoçar, mas como era um pouco tarde (umas 14h) encontramos apenas um que estava quase fechando. O dono foi muito gente boa, deixou a gente comer à vontade, com suco e refrigerante, e nos cobrou só 25 reais para três pessoas. Enfim encontramos o nosso último cliente, mas numa das ruas mais movimentadas da cidade. Foi muito difícil parar, tivemos que fechar a rua algumas vezes e dar várias voltas no quarteirão.

Com a missão cumprida, aproveitamos o restante do nosso dia em Chapecó para encontrar a nossa amiga Ana Casagrande e seu companheiro Rafa. Fomos a uma sorveteria e tentamos por a conversa em dia. Foram poucas mas ótimas horas! Infelizmente não deu para ver seu filho Antonio, mas planejamos voltar.



Nesse dia, dormimos no hotel Bom Gosto II, em um posto na BR-282. Só conseguimos chegar em São Paulo de volta na terça-feira (23/02) a noite. Deixamos o Arthur no metrô Armênia e agradecemos sua companhia. As portas da nossa boleia estão sempre abertas pras conversas, causos e paieiros!

Chegamos em Jacareí quase 23 horas e ainda tivemos que carregar o caminhão para a viagem do dia seguinte, quando saímos cedinho para Pouso Alegre-MG.


Destino: Castro e Ponta Grossa (PR), Joaçaba e Chapecó (SC)
Carga: material odontológico
Distância percorrida, ida e volta: 2.500 km